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Em Guimarães, o Benfica teve 17 grandes minutos de ecrã

No cinema, é famosa a história de Anthony Hopkins ter arrebatado um Óscar com uma participação reduzida a uns singelos 16 minutos de ecrã – foi em Silêncio dos Inocentes. Cerca de um quarto de hora, num filme de 118 minutos. Não precisou de mais. Na I Liga, poderão ficar famosos os 17 minutos de ecrã do Benfica em Guimarães, também com um “Óscar” conquistado neste sábado – um importante triunfo por 0-3.

Os “encarnados” estiveram mais ou menos adormecidos durante 45 minutos, mas vieram do intervalo com ideias: Mourinho fez duas substituições, o Benfica criou perigo três vezes, marcou um golo, beneficiou de uma expulsão no Vitória e marcou o segundo golo – tudo em 17 minutos. Não precisaram de mais.

Bloqueio central

Este jogo teve detalhes tácticos interessantes. O 4x3x3 do Vitória era, no momento defensivo, um 4x4x2 que mobilizava Samu para a pressão à saída curta do Benfica. Isto deixava os “encarnados” com teórica superioridade contra Beni e Diogo Sousa, mas Enzo, o jogador dado “de borla” não capitalizava essa vantagem – quase sempre muito escondido atrás dos dois mais avançados do Vitória (uma excepção aos 15’).

A opção dos vitorianos, que nem sempre usam este meio-campo com duplo pivot, poderá ter que ver com a posição de Sudakov mais como médio interior do que como propriamente um 10 – e fez sentido.

Com bola, a solução do Benfica era quase sempre tentar encontrar Pavlidis no jogo directo, ora pelo ar, ora pelo chão, sabendo que o grego, recebendo em apoios frontais, arrastaria sempre um dos centrais. O problema é que esse movimento era inconsequente porque ninguém explorava o espaço deixado livre pelo central arrastado – poucas diagonais de Prestianni da esquerda para dentro e pouca capacidade de Sudakov para verticalizar sem bola (não é esse tipo de jogador como seria Aursnes nessa posição).

Aos 18’ apareceu uma solução que poderia dar qualquer coisa ao Benfica. Pavlidis movimentou-se em apoio e foi Diogo Sousa a acompanhar (e não o central). Isto deixou Ríos com espaço para jogar e sugeria um paradoxo segundo o qual quanto mais baixo aparecesse o grego, congestionando o meio-campo, mais espaço Ríos poderia ter.

Por volta dos 25’, Prestianni entrou em jogo. Fartou-se de estar fora da partida, muito colado à linha, e começou a surgir em zonas interiores – tenha sido por decisão própria ou indicação do banco, o certo é que resultou. Com Beni, Diogo Sousa e Rivas a bloquearem Sudakov, Ríos e Pavlidis, a solução de mover Prestianni para zonas interiores poderia baralhar esse triângulo de bloqueio criado pelo Vitória.

Também Dahl e Sudakov começaram a aparecer mais pela esquerda e isso baralhou os encaixes e libertava Prestianni – o argentino teve três lances de ataque entre os 30’ e o intervalo.

Do lado do Vitória não havia propriamente virtude ofensiva, com lances mais de via individual do que de ataque posicional. Houve muito pouco perigo até ao intervalo, sem oportunidades de golo.

17 minutos “à Mourinho”

Prestianni estava a crescer com os minutos, mas isso foi travado ao intervalo: não regressou para a segunda parte, tal como Sudakov – entraram Barreiro e Schjelderup. Os tais movimentos verticais que faltam a Sudakov poderiam surgir com Barreiro, mas sempre com o ónus de se perder requinte técnico em larga escala.

Pelo menos a nível de presença ofensiva isso notou-se logo aos 48’, com Barreiro a aparecer na área vindo de trás a cabecear um bom cruzamento de Lukebakio – defesa de Castillo. E houve um lance parecido pouco depois, com novo cruzamento do belga e desta vez cabeça de Ríos a criar perigo, e um remate de livre novamente de Lukebakio. O Benfica “cheirava” o golo e isso confirmou-se aos 53’.

Escusado será dizer que o cruzamento foi de Lukebakio, mas é relevante dizer que, desta vez, o cabeceamento foi de Tomás Araújo – Rivas deixou-o fugir da marcação sem explicação e Castillo também não sabia bem o que andava a fazer.

Nem Castillo nem Fábio Blanco, que entrou de sola sobre Barreiro e foi expulso pouco depois. E só para garantir: aos 62’, uma jogada de envolvimento de Aursnes e Lukebakio na direita acabou com Dahl a disparar um “míssil” dentro da área.

Num ápice, o jogo pendeu claramente para o lado do Benfica, que regressou muito forte do intervalo, chegou-se à baliza, marcou um golo, ficou em superioridade numérica e marcou o segundo golo. Jogo feito.

É fácil crer que trocar Prestianni e Sudakov por Barreiro e Schjelderup significa uma redução de “perfume” técnico e capacidade de associação, mas também é fácil perceber que os dois que entraram são bastante mais acutilantes – Barreiro no plano da movimentação, Schjelderup na praticidade das suas acções, sobretudo comparado com o colega argentino.

É discutível se esta é uma ideia mais virtuosa para o Benfica a nível colectivo, mas, pelo menos em Guimarães, funcionou. Desta vez, Mourinho ganhou – e ainda viu João Rego marcar o 0-3 aos 87’.

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