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Neymar vira personagem de “novela”, mas sem futebol para sustentar o roteiro

A atuação de Neymar no jogo de ontem contra o Flamengo merece, sinceramente, um capítulo de novela. Ou talvez pareça ela própria o capítulo. Existe uma carga dramática quase cinematográfica em tudo que se passa ao redor dele. Sua volta ao Brasil foi anunciada como uma epopeia: repatriar o ídolo mundial para recolocar o Santos no lugar de onde nunca deveria ter saído. Um Santos que em 2024 estava na Série B, que retornou à Série A pressionado, inseguro, e que apostou todas as fichas no superastro. Só que a realidade é menos gloriosa do que o marketing do retorno.

Há quem diga que o acordo de Neymar com o Santos chega perto de 20 milhões mensais em publicidade e agregados. Um valor que soa absurdo até para um grande europeu, quanto mais para o futebol brasileiro atual, e sobretudo para um clube que ainda tenta reorganizar sua vida esportiva. E não é exagero dizer que nem Neymar, hoje, é o jogador de nível planetário que já foi.

Mas vamos ao jogo

O Maracanã lotado, o Flamengo brigando pela liderança, o Santos brigando pela vida. Perder ontem significaria retornar à zona do medo. Neymar foi poupado contra o Palmeiras sob o argumento do gramado sintético do Allianz Parque, mas no Rio ele foi para campo, e aí começou a novela do episódio mais recente.

Foi vaiado. Cumprimentou o banco do Flamengo inteiro antes do jogo, num gesto que não é usual em pré-jogo, como se estivesse fazendo parte de uma confraternização amistosa e não de um duelo competitivo. Quando a bola rolou, veio o roteiro que se tornou repetitivo: reclama dos companheiros, reclama da arbitragem, se irrita com tudo, e transforma o jogo numa plataforma de queixas.
Recebeu amarelo. Gesticulou. Encenou. São sinais públicos de quem acha que o árbitro está contra ele e que os colegas não lhe servem adequadamente.

Houve um detalhe simbólico: o Santos não conseguia sair jogando, estava acuado, e o goleiro rifava sempre para o meio. Neymar decidiu intervir, voltou para bater o tiro de meta, como se estivesse ensinando em rede nacional a forma correta de iniciar uma jogada. Só que o lateral, que recebeu a bola, fez o que o jogo exigia, e devolveu em forma de chutão. Neymar surtou.

O ápice aconteceu na metade do segundo tempo. Sem perna, sem arranque, arrastando-se em campo, Neymar foi substituído por Juan Pablo Vojvoda. E fez questão de transformar o fato em cena: gesticulou, reclamou, perguntou se era sério a troca. A resposta foi simples, objetiva e técnica: sim, é sério, está fora. É difícil imaginar clima pacificado no vestiário com essa dinâmica.

E aí veio o pós-jogo: mais do que analisar o gol, o drible ou o passe, o que repercutiu foi a frase que ecoou das arquibancadas do Maracanã e atravessou o Atlântico. A imprensa espanhola transcreveu o coro irônico da torcida rubro-negra como síntese de tudo o que vimos no Rio:

“Neymar, andate a la mierda, volviste a Santos para jugar en Serie B” – traduzida assim, em espanhol, fica até romântica.

E isso disse mais do que qualquer entrevista coletiva. Ancelotti, lá na Europa, se assistiu ao jogo, não precisou tirar conclusão nenhuma.

Ela já estava escrita na noite do Rio.

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