Camões, Pessoa, Saramago e Agustina. Portugal lança constelação de satélites para comunicações marítimas

Os primeiros quatro satélites – Camões, Pessoa, Saramago e Agustina Bessa-Luís – serão lançados em fevereiro de 2026, a partir da Califórnia. A missão vai ser operada pela SpaceX.
O projeto, liderado pela LusoSpace, inclui inicialmente quatro unidades que terão por missão “revolucionar” a segurança e a conectividade nos oceanos. Um projeto pioneiro que coloca Portugal no mapa da indústria espacial global.
Missão com impacto global
Viajar até ao espaço não é, para Portugal, um caminho totalmente desconhecido. Depois de um início tímido, com um primeiro satélite experimental – PoSat 1 – em 1993, vários outros já “circunavegam” a órbita terrestre (Prometheus-1, PoSAT-2, ISTSat-1 e AEROS/MH-1). Agora a ambição é lançar, pela primeira vez, uma constelação de satélites dedicada às comunicações marítimas.
O projeto inclui então quatro unidades, baptizadas com os nome de ilustres figura da literatura portuguesa – Camões, Pessoa, Saramago e Agustina Bessa-Luís — que marcam o arranque da Constelação Lusíada, composta por 12 satélites, ao todo.
“Esta missão é importante por várias razões. É a primeira vez que Portugal vai ter uma constelação de satélites e será também a primeira constelação mundial de comunicações marítimas com tecnologia VDES”, explica Ivo Vieira, CEO da LusoSpace.
Uma constelação que vai permitir que todos os navios comuniquem entre si e partilhem informações sobre tráfego, derrames de petróleo e piratas à vista, por exemplo.
Tecnologia para criar um Waze dos oceanos
Os satélites vão operar com sistemas AIS (Automatic Identification System) e VDES (VHF Data Exchange System), permitindo comunicações seguras entre navios e autoridades marítimas. A inovação promete criar uma rede global para partilha de informações sobre tráfego, derrames de petróleo, condições meteorológicas e até alertas de pirataria, ou seja, uma especie de Waze, mas agora no mar.
“Através desta constelação, todos os navios vão poder comunicar entre si e partilhar informações críticas. É um serviço específico, com alta segurança, que não existe no mercado atual”, sublinha Ivo Vieira.
Porquê nomes literários?
A escolha dos nomes dos satélites não é aleatória, diz o CEO da LusoEspace à RTP Notícias: “Estamos a celebrar os 500 anos de Camões e quisemos ligar esta missão à comunicação humana. Os poetas representam isso mesmo: linguagem, escrita, expressão. É uma forma poética de dar vida a uma tecnologia que serve as pessoas, (…) e como português que sou, cada um destes nomes traz um certo sentimento português nacional”.
O meu nome também pode ir para o espaço
A LusoSpace tomou a iniciativa de envolver os portugueses nesta missão histórica. Qualquer pessoa pode inscrever simbolicamente o seu nome a bordo destes satélites.
Como? De acordo com a LusoSpace, basta seguir as páginas oficiais no Instagram, Facebook ou Linkedin, comentar a publicação da campanha com o nome a enviar para o espaço e identificar quatro pessoas para participarem. O número de inscrições é limitado.
Concorrência? “Ferrari vs bicicleta”
Apesar da existência de gigantes como a Starlink, Ivo Vieira garante que o projeto português ocupa um nicho único: “Comparar o nosso serviço com a Starlink é como comparar um Ferrari com uma bicicleta. Nós não vamos fornecer Netflix em tempo real, mas sim comunicações seguras para navios. É um mercado totalmente distinto e seremos pioneiros na tecnologia VDES”.
O investimento ronda os 15 milhões de euros, apoiado pelo PRR, e envolve parceiros nacionais como o IT e o INEGI.
Para Ivo Vieira, este projeto é mais do que tecnologia: “Depois da conquista marítima, estamos a conquistar o espaço. É a última fronteira e Portugal vai mostrar ao mundo que consegue ser pioneiro num nicho estratégico”.
Novos caminhos rumo ao espaço
Doze satélites que são apenas o começo num novo caminho de Portugal no espaço, acredita Ivo Viera.
“Há muitos mais projetos em desenvolvimento, nomeadamente comunicações ópticas, ou seja, utilizarem a luz para poder comunicar no espaço de forma muito rápida e também segura. Portanto, de facto temos aqui muitos projectos em vista”.
Poderemos dizer que, depois de conquista marítima, estamos a conquistar finalmente o espaço, que é “sem dúvida a última fronteira”, conclui.




