Sabe tão bem um bombom assim para enganar a fome (crónica)

AMESTERDÃO — Encostado à parede pelo miserável arranque na Liga dos Campeões e condenado a ter de vencer para ainda acalentar o sonho de, a partir de fevereiro, continuar na competição, o Benfica encontrou o melhor adversário possível para somar os primeiros pontos. José Mourinho colocou de parte o sistema de três defesas que ensaiou na Taça de Portugal e recuperou o 4x2x3x1 que mais tem utilizado, com António Silva a voltar a ganhar o lugar a Tomás Araújo, muito displicente no Restelo, e Leandro Barreiro como muleta de Pavlidis.
A águia apareceu solta e a querer, desde cedo, pegar no jogo, assumindo a bola e empurrando os neerlandeses para trás. Num canto erradamente assinalado – havia fora de jogo de Leandro Barreiro no lance antecedente -, Ríos foi às alturas fazer o primeiro cabeceamento, Jaros defendeu para a frente e deixou a bola mesmo a jeito do míssil de Dahl, que só parou no ângulo superior direito da baliza. Estava feito o mais difícil para a águia, que a partir daqui tinha o jogo na mão para o controlar frente a um Ajax que está longe, muito longe de ser a equipa temível de tempos passados.
Logo depois do golo, Pavlidis dispôs de nova boa chance e foi tudo o que o Benfica mostrou na primeira parte de Amesterdão, não capitalizando as várias perdas de bola em fase recuada do Ajax, em clara crise de confiança e com o assobio dos adeptos sempre ao virar da esquina. Daí em diante, a equipa de Fred Grim, ferida no orgulho por ter entrado para o jogo com apenas uma (!) vitória nos últimos nove jogos, tomou conta do jogo e o Benfica foi-se deixando encostar aos primeiros 30 metros à frente de Trubin.
Leandro Barreiro foi das melhores unidades da águia e fez o 2-0 – Foto: IMAGO
Aos 33′ o ucraniano opôs-se com qualidade a bom desenho ofensivo do Ajax, concluído por Klaassen, e já em cima do intervalo foi Godts, em iniciativa individual a partir da esquerda, a rematar em arco e com perigo. Eram os primeiros sinais de perigo e o Benfica dominador e seguro do arranque do jogo já se tinha afundado e transformado no Benfica curtinho e plantado à frente da sua baliza a ver jogar, sem capacidade de se esticar – sem Lukebakio, não há outro capaz de imprimir velocidade no último terço…
Na segunda parte… mais do mesmo
Como acabou o primeiro tempo foi como começou o segundo e só a desinspiração neerlandesa impediu o empate aos 52′, quando Taylor e Weghorst combinaram à entrada da área encarnada e o gigante ponta-de-lança serviu Klaassen. O médio só tinha de encostar no frente a frente com Trubin, mas pegou mal na bola e atirou ao lado. Só aos 72′ o Benfica deu um ar de sua graça, num remate de Dedic para defesa de Jaros, depois de contra-ataque conduzido por Sudakov. Fred Grim tentou tudo para chegar ao golo lançando peças ofensivas, mas foi Barreiro, aos 89′, a dar a machadada no assunto, numa excelente finalização após combinar com Aursnes.
Conhecendo José Mourinho, muito mais resultadista e pragmático, não se espera um Benfica de futebol avassalador e virado para o ataque e o plantel, mesmo depois de investimento recorde no verão, é desequilibrado e não permite grandes magias, mas chegou a ser angustiante ver a equipa portuguesa ser subjugada por um adversário perfeitamente ao seu alcance. Valeram os primeiros pontos na Champions, mas, tudo espremido, foi só mesmo isso que a águia trouxe na bagagem para Lisboa.
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