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Moraes dá fôlego à oposição no ocaso de Bolsonaro

A prisão preventiva de Jair Bolsonaro (PL) neste sábado (22) parece ter selado o destino carcerário do ex-presidente. Ela constitui uma medida extrema, com ares de “Minority Report – A Nova Lei”, filme de Steven Spielberg de 2002.

Nele, uma unidade policial era abastecida por videntes com imagens de crimes que ainda iriam acontecer e entrava em ação para impedi-los. Na sexta (21), o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) ofereceu a Alexandre de Moraes uma visão de futuro ao convocar vigílias em favor do pai.

Na sua decisão, ele citou um risco de fuga por violação na tornozeleira eletrônica, que ocorreria em meio à vigília, uma conjectura.

Talvez Moraes também estivesse preocupado com o risco de confronto entre apoiadores e os policiais que fossem executar a ordem de prisão de Bolsonaro —em 2018, Lula (PT) estava no Sindicato dos Metalúrgicos em São Bernardo cercado de fiéis, e só foi preso quando saiu voluntariamente do prédio.

Há também a possibilidade de a convocação ter acionado um gatilho cognitivo associado aos acampamentos em frente a quartéis quando o então presidente foi derrotado pelo petista em 2022, desaguando no 8 de Janeiro.

Como direito de manifestação ainda é livre segundo o artigo 5º da Constituição, Moraes sacou uma exceção à regra, o risco à ordem pública, para prender o ex-presidente na sede brasiliense da Polícia Federal. Como definir tal perigo sem a aglomeração acontecer é algo insondável.

Na PF, ele aguardará seu destino conhecido, a Papuda. Nada impedirá novas convocações de manifestações. Há precedente, até: Lula passou 580 dias preso com uma vigília à porta da PF de Curitiba, sem intercorrências.

Aqui não se trata de discutir se Moraes exagerou, lembrando a debacle causada por uma falha do sistema do filme de Spielberg, mas avaliar o impacto político da decisão. Nesse sentido, ele fez exatamente o que o senador Flávio queria.

O bolsonarismo está respirando por aparelhos, ainda que sempre irá se fiar nos números de pesquisas eleitorais do ex-presidente, de resto inelegível até 2030 mesmo que não estivesse condenado a 27 anos pela trama golpista.

Os atores do pós-Bolsonaro se movimentam livremente, uma turma encabeçada pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), esperando a hora certa de alçar voo —ou não, deixando a missão de enfrentar Lula com algum colega, em especial se o presidente estiver em boa forma.

Com o desastre da ação do incendiário deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) contra o Brasil na terra de Trump, coube a Flávio assumir o manto de presidenciável presumido da família, ao menos neste momento

A toxicidade de seu sobrenome o inviabiliza pelo cenário atual, mas sua voz é suficiente para bagunçar ainda mais o coreto da dividida oposição. Moraes lhe deu, mordendo a isca da vigília, oxigênio retórico para continuar relevante no jogo.

Claro, isso teve um preço, que foi ver o pai adiantar sua estadia sob a custódia do Estado de forma ostensiva. É padrão Bolsonaro pagar por ações de seus filhos, como já ocorreu na decretação da prisão domicilar. Mas a ficha da vitimização foi usada pelo ex-presidente ao longo de todo o processo que o viu condenado, e não será diferente na execução da pena.

Mas a partir do momento em que Bolsonaro sair de vez de cena, esse crédito final fornecido por Moraes irá se exaurir, e a contagem regressiva para o enterro político do ex-presidente estará aberta entre os seus herdeiros, que verão a ausência física como boa notícia.

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