Carros, forretice, almofadas e Ruben Amorim: tudo o que disse Mourinho

— Que Benfica é que os adeptos podem esperar amanhã?
— Um Benfica que quer ganhar. Um Benfica que respeita o seu adversário, como respeita a todos… mas um Benfica que quer ganhar.
— O Benfica é comparado a um Ferrari, pelo menos por parte dos adeptos. Nesse sentido, sente que o motor do Benfica já começa a carburar melhor ou ainda é cedo para tirar conclusões?
— Eu agora guio um BMW que o Benfica me deu… [risos]. Devo fazer publicidade à BMW e não à Ferrari. Fazendo jus à minha fama, e proveito, de ser forreta, não comprei o Ferrari, foi-me oferecido. Porque eu nunca o compraria. Brincadeira à parte… ganhámos os últimos três jogos, sim. O primeiro dos quais, como sabe, contra uma equipa de uma divisão inferior. Acho que fizemos um jogo bem conseguido no Ajax, de acordo com os nossos objetivos para esse jogo, de acordo com as nossas características, de acordo com as nossas limitações. E no último jogo contra o Nacional, tenho a certeza de que, se em vez de sermos nós, se tivesse sido outra equipa portuguesa a fazer o jogo que nós fizemos, a amassar como nós amassámos, a criar como nós criámos… tenho a certeza de que teria tido direito a comentários absolutamente fantásticos, falando de domínio avassalador, falando de um super-recorde de toques na bola dentro da área adversária, número recorde de remates… Portanto, acho que fizemos um jogo muito bem conseguido, com uma equipa que nos criou, obviamente, dificuldades por ter sido uma equipa que defendeu tão bem quanto eles o fizeram. Três vitórias de seguida é positivo, é bom. Mas não me faz, nem a mim nem a nenhum de nós, perder o controlo, perder a tranquilidade, perder inclusive a humildade que começa a ser uma característica na nossa equipa. É uma equipa que trabalha como equipa, que festeja como equipa, que sofre como equipa. E isso acho que é um passo importante.
— Fez ontem 25 anos do primeiro dérbi de José Mourinho [vitória por 3-0]. Que festejou efusivamente no campo. De lá para cá já jogou talvez centenas de dérbis em vários países. Como é que se vivem estes dias e a preparação destes jogos?
— Normal. Não vou dormir pior hoje do que numa noite que anteceda um jogo que não é dérbi. Não fui mais detalhista no trabalho por ser um dérbi. Tivemos a possibilidade de ter mais tempo de trabalho, depois do jogo na Madeira. De resto, com maior tranquilidade. Já joguei uma infinidade de dérbis em todos os países. Mas não creio que isso seja positivo ou negativo. Não é negativo porque não me retira a vontade de jogar um novo dérbi. Não é negativo porque me retira alguma da emoção que precisas também para jogar estes jogos. Positivo no sentido de ‘déjà vu’, de ser muito difícil que aconteça alguma coisa que nunca te aconteceu na carreira.
— O Benfica joga o dérbi em casa com o Sporting. Em teoria, jogar no Estádio da Luz é uma vantagem, mas o Benfica já perdeu 6 pontos contra adversários teoricamente inferiores na Liga, jogando na sua casa. Considera haver uma dívida para pagar ao público da Luz e um problema para resolver quando o Benfica joga em sua casa?
— Há sempre dívida. Há sempre dívida, principalmente quando às vezes possa parecer que a atitude da equipa não é condizente com o amor de milhões de benfiquistas. Nesse sentido, sim. No sentido de perder jogo, de perder pontos, de não jogar o jogo que os adeptos possam estar à espera, não penso que seja uma questão de dívida. A responsabilidade que os jogadores têm, fundamentalmente, é de honrarem a sua profissão, primeiro que tudo, e depois honrarem o benfiquismo. E isso significa uma atitude intocável em qualquer jogo. Às vezes, eu e os adeptos podemos ter alguma perceção errada e podemos pensar ‘esta atitude não foi a melhor’, mas às vezes há condicionantes que fazem parecer que a atitude não foi a melhor. O grupo é bom, é um grupo de gente boa, é um grupo que não cria um único problema na gestão no dia a dia. É um grupo amigo. É um grupo bom. E nesse sentido eu acho que eles não têm dívida absolutamente nenhuma. Eles dão o que podem dar e, obviamente, com o crescimento da equipa e com o crescimento até de algumas individualidades, vão numa direção onde, obviamente, se criará mais empatia com os adeptos e menos, entre aspas, a dívida de que você falou.
— Está preocupado com a possibilidade de os árbitros virem a fazer greve? E vê alguma razão naquilo que os árbitros têm dito?
— Se os árbitros fizerem greve, estou convencido de que há muito árbitro na Europa que gostaria de vir apitar o campeonato português. É uma coisa que, hoje em dia, acontece muito. Não tanto nos países europeus, mas algumas vezes sim. Hoje em dia os árbitros são profissionais. Não direi todos, porque alguns seguramente apitam em campeonatos com outra dimensão, mas estou absolutamente convencido de que os melhores árbitros de muitos países europeus teriam o maior prazer em vir apitar em Portugal. Portanto, se acontecer alguma vez que os árbitros, com a sua associação, tenham essa decisão, não penso que seja um grande problema, porque acho que o campeonato continuaria e a Liga encontraria facilmente soluções.
— Que tipo de Sporting espera amanhã na Luz? A entrar com a iniciativa e a querer pegar no jogo ou, por outro lado, um Sporting que esteja um bocadinho mais na expectativa? E como é que isso pode influenciar as suas escolhas para o onze?
— Não faço ideia. O Sporting jogará como o Rui Borges quiser que jogue, como o Rui preparou a sua equipa durante esta semana. Não faço a mínima ideia. Você disse ‘pode jogar assim, pode jogar assado’… Obviamente que nós também nos prepararemos para o ‘pode jogar assim, pode jogar assado’. Obviamente, que mais importante para nós é como nós queremos jogar. Mais importante é aquilo que nós preparámos para nós próprios, para a nossa identidade enquanto equipa. Mas, como fazemos com todas as equipas, estudamos o mais que podemos. Fica sempre aberta a porta da imprevisibilidade, que é a porta que o treinador adversário e os jogadores adversários podem meter no jogo. Esta semana preparámo-nos mais relativamente a nós próprios do que propriamente pensando no nosso adversário, que, como sabemos, é um adversário fortíssimo.
— Disse recentemente que existiam jogadores que não tinham noção do que era representar o Benfica. Tem a certeza de que eles têm consciência do que é jogar um dérbi em Portugal?
— Claro, os jogadores também vão crescendo com as suas experiências. Eu quando disse que às vezes há jogadores que chegam a um clube e depois saem do clube e ainda não perceberam muito bem onde é que estiveram, refiro-me muito mais a um determinado perfil de jogador. Porque há jogadores que, pelo seu próprio perfil, vivem um bocadinho isolados dos contextos, não sentem muito bem a responsabilidade, não sentem muito bem a dimensão, historicamente não sabem também o significado de determinado tipo de jogos. Refiro-me um bocadinho mais ao perfil de jogador do que propriamente o jogador que acabou de chegar e não o percebe. Há jogadores que acabam de chegar e percebem imediatamente onde é que estão e percebem imediatamente a responsabilidade. Mesmo os recém-chegados já jogaram este ano contra o Sporting. Mesmo os recém-chegados acho que percebem perfeitamente o perfil de campeonato que existe em Portugal e as equipas que tradicionalmente jogam para os lugares de cima. Portanto, nesse aspeto, não penso que seja um problema.
— Na preparação do jogo, o que foi identificado no Sporting que possa exigir ao Benfica uma resposta tática específica?
— Não quero responder à pergunta. A pergunta é boa, mas a resposta não é boa para te dar. Porque seria exatamente o mesmo que te dizer: ‘Henrique, vem ver a semana, vem ver os treinos e já percebes o que é que nós fizemos e as coisas que nos preocupam e as coisas que nós podemos tentar explorar’. Não gosto de dizer debilidade, porque numa equipa da dimensão do Sporting não há ‘a debilidade’, poderá simplesmente haver algumas coisas que fazem parte do modelo de jogo deles, do perfil deles, que nós podemos tentar explorar. Mas basicamente é… é um bocadinho por aí.
— Rui Borges expressou a admiração que tem por José Mourinho e que José Mourinho foi uma referência para ele. Sendo José Mourinho o treinador experiente que é, o que é que pode ensinar a Rui Borges? E se tivesse que dar um conselho ao treinador do Sporting, qual seria?
— Acho que não tenho nada para ensinar. Agradeço as palavras do Rui. Já sei que vão adjetivar-me com falta de humildade, mas acho que é normal que estes treinadores desta geração seguinte à minha tenham admiração por alguém que fez o que fez e abriu porta a que se pensasse o treinador de determinada maneira. Obviamente, que agradeço as palavras do Rui porque poderia não ter dito e disse. Portanto, tenho de agradecer. Acho que ele não tem nada a aprender comigo no dérbi. Ele é um treinador com experiência, é um treinador com capacidade, é um treinador campeão nacional, que sabe muito bem o que quer para a sua equipa. Que teve, quanto a mim, um mérito muito grande que foi a transformação do Sporting do Ruben Amorim para o seu Sporting. Foi objetivo, foi corajoso, sabia perfeitamente o que é que queria, passou ao lado de muitas críticas e está a fazer um trabalho extraordinário. Portanto, tenho o maior respeito por ele. E da mesma maneira como ele disse e bem ‘respeita-me a mim, respeita a todos os outros’, obviamente que eu faço minhas as palavras dele. Respeito-o e respeito qualquer treinador com quem jogue contra em Portugal.
— Richard Ríos está de volta depois de castigo. Está preparado para utilizar um onze inicial com cinco médios ou vai manter um jogador mais de corredor na equipa inicial? Por exemplo Rodrigo Rêgo? Ou apostar em Schjelderup ou Prestianni?
— A pergunta é boa, mas eu não vou responder. O Gonçalo [Guimarães, diretor de comunicação] passou-me as declarações do Rui na conferência de imprensa. O Rui não diz se joga o Morita, se joga o Simões; não diz se o Ioannidis vai recuperar ou não vai recuperar; não diz se o Debast joga, se o Debast não joga… não diz nada. A única coisa que eu posso dizer relativamente àquilo que o Rui disse, é que o Rui diz que ainda tem de conversar com a almofada… e eu não tenho. Não tenho de conversar, porque já está tudo conversado, sei quem vai jogar. Treinámos hoje em relação exatamente a quem vai jogar amanhã. Os jogadores sabem quem vai jogar. Eu sei quem vai jogar, não há dúvidas absolutamente nenhumas.




