Hidrovias da região norte e BR-319 estarão no plano nacional de logística

A falta de sinalização dos rios, ausência de fiscalização e infraestrutura ameaçam o escoamento de produtos do polo industrial de Manaus e cadeias como pirarucu, açaí e castanha.
Isso, apesar de o Amazonas concentrar um dos maiores polos industriais do país e ocupar posição estratégica no abastecimento interno, nas exportações e na economia da floresta.
Ainda assim, segue enfrentando gargalos logísticos históricos que comprometem sua competitividade e o desenvolvimento regional.
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Esses entraves foram reconhecidos pelo próprio governo federal durante o lançamento da Avaliação Estratégica do Plano Nacional de Logística (PNL) 2050, apresentado nesta quinta-feira (18 de dezembro), em Brasília.
Logo após a apresentação do diagnóstico, o secretário-executivo do Ministério dos Transportes, George Santoro, afirmou que o Amazonas e a região Norte estarão entre as prioridades do novo ciclo de planejamento logístico.
“Não tenha dúvida que a BR-319 vai ser priorizada, assim como as hidrovias que estão em andamento. A gente tem um diagnóstico muito mais detalhado porque ouvimos inclusive comunidades originárias da Região Norte. Além disso, fizemos várias reuniões e audiências em Manaus e nos demais estados da região”, afirmou.
Segundo Santoro, o objetivo do planejamento é corrigir distorções históricas e garantir infraestrutura compatível com o tamanho da população e da economia local.
“Eu tenho 2,3 milhões de pessoas que moram em Manaus e precisam de um acesso rodoviário digno com o tamanho da população daquela cidade”, completou.
Gargalos profundos
Apesar do reconhecimento oficial, o diagnóstico do PNL 2050 evidencia que os gargalos estruturais ainda são profundos, especialmente em um estado onde os rios são o principal meio de transporte.
Atualmente, a navegação fluvial no Amazonas carece de sinalização adequada, como boias e balizamento. Em muitos trechos, esses equipamentos são improvisados artesanalmente pela própria população ribeirinha.
A ausência de sinalização compromete a segurança da navegação, principalmente durante a noite ou em condições climáticas adversas. Soma-se a isso a fiscalização precária da frota que transporta passageiros e cargas, ampliando riscos operacionais e sociais.
Indústria bilionária x logística
Um fato é realidade e que todo amazonense sabe: esses gargalos logísticos impactam diretamente o escoamento da produção do polo industrial de Manaus, que reúne cerca de 500 empresas nacionais e estrangeiras.
A expectativa da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (Fieam) é que o polo alcance faturamento de R$ 227 bilhões em 2025, com crescimento estimado de 11%.
Em 2023, Manaus registrou o maior Produto Interno Bruto (PIB) entre os municípios das regiões Norte, Nordeste e Sul, somando R$ 127,6 bilhões. A capital ocupa a sexta posição no ranking nacional.
Apesar desses números, a indústria local enfrenta dificuldades para trazer insumos e escoar produtos para o mercado interno e externo, em razão da deficiência da infraestrutura logística e da baixa integração entre modais (hidroviário, rodoviário, ferrovias e aéero).
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Cadeias da floresta e seus entraves
Além da indústria, cadeias produtivas sustentáveis fundamentais para a economia amazônica também sofrem com a falta de infraestrutura.
A produção do pirarucu, por exemplo, é limitada não pela escassez do peixe, mas pelas dificuldades logísticas. Cerca de 50% da receita arrecadada é reinvestida em monitoramento, captura, transporte e operação.
No caso do açaí, alimento essencial para comunidades locais e importante fonte de renda, a ausência de portos adequados e de microportos refrigerados compromete a conservação do produto e o fortalecimento da cadeia produtiva.
Já a cadeia da castanha envolve mais de 100 organizações comunitárias e cerca de 60 empresas privadas. A atividade é estratégica para a preservação ambiental, o combate ao desmatamento e a segurança territorial, mas enfrenta desafios logísticos e a falta de dados precisos sobre a produção.
Esses entraves dialogam diretamente com os problemas mapeados pelo PNL 2050, como gargalos na origem das cargas, dificuldades no escoamento para exportação, abastecimento interno e vulnerabilidade da infraestrutura às mudanças climáticas.
Competitividade do Amazonas
A subsecretária de Fomento e Planejamento do Ministério dos Transportes, Gabriela Avelino, afirmou que o plano deu atenção especial ao Amazonas por conta de sua matriz econômica industrial.
“O nosso esforço é tornar a produção do Amazonas mais competitiva a partir de uma oferta de infraestrutura de melhor qualidade e da expansão da malha existente, contemplando não só a demanda do setor industrial, mas também das pessoas e do abastecimento interno”, disse.
Representando o setor produtivo, a diretora do escritório do Centro das Indústrias do Estado do Amazonas (Cieam/Fieam), em Brasília, Amanda Abreu, destacou a importância do plano, mas ressaltou a necessidade de definições claras.
“É crucial para o futuro da nossa produção que o PNL 2050 detalhe qual é o papel do Amazonas e da Região Norte, visto que a Zona Franca de Manaus é um polo importante que precisa de toda essa logística e de um acesso rodoviário digno para a grande população da capital”, afirmou.
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Consulta pública
A Avaliação Estratégica do PNL 2050 entra agora em consulta pública até 18 de janeiro de 2026, por meio da plataforma Participa + Brasil.
Após essa etapa, o governo deve divulgar, em março, o cenário-meta do plano, com a priorização dos projetos estruturantes.
Para o Amazonas, o momento é decisivo. O plano reconhece os gargalos históricos, mas a superação desses entraves dependerá de escolhas políticas, investimentos contínuos e execução efetiva.
Sem hidrovias estruturadas, integração logística e infraestrutura compatível com seu peso econômico, o estado seguirá pagando um alto custo para produzir, circular e competir no Brasil do futuro.
Foto: Michel Corvello/MT




